Estava organizando os livros para a biblioteca *-* e encontrei esse aqui que achei lindinho!
O livro chama 'Mania de explicação' e a autora é Adriana Falcão. Ele é cheio de explicações para palavras que na maioria das vezes não conseguimos explicar. Sem contar as ilustrações que são lindas! É uma graça... toda gente grande tinha que ter um!
O livro chama 'Mania de explicação' e a autora é Adriana Falcão. Ele é cheio de explicações para palavras que na maioria das vezes não conseguimos explicar. Sem contar as ilustrações que são lindas! É uma graça... toda gente grande tinha que ter um!
Era uma menina que gostava de inventar uma explicação para cada coisa.
Explicação é uma frase que se acha mais importante do que a palavra.
Ela achava o mundo do lado de fora um pouquinho complicado.
Se cada um simplificasse as coisas, o mundo podia ser mais fácil, ela pensava.
Então tentava simplificar o mundo dentro da sua cabeça.
Simplificar é quando em vez de pensar em 4/8 a pessoa pensa logo em 1/2.
Um meio, quando é escrito em números, sempre quer dizer "metade'.
Mas quando é escrito em letras pode também querer dizer "um jeito".
Existem vários jeitos de entender o mundo.
Ela tentava explicar de um jeito que ele ficasse mais bonito.
Essa menina pensa que é filósofa, as pessoas falavam.
De tanto que a menina explicava, as pessoas às vezes se irritavam (irritação é um alarme de carro que dispara bem no meio do seu peito) e terminava indo embora, deixando a menina lá, explicando, sozinha.
Solidão é uma ilha com saudade de barco.
Saudade é quando o momento tenta fugir da lembrança pra acontecer de novo e não consegue.
Lembrança é quando, mesmo sem autorização, o seu pensamento reapresenta um capítulo.
Autorização é quando a coisa é tão importante que só dizer "eu deixo" é pouco.
Pouco é menos da metade.
Desespero são dez milhões de fogareiros acesos dentro da sua cabeça.
Angústia é um nó muito apertado bem no meio do seu sossego.
Preocupação é uma cola que não deixa o que não aconteceu ainda sair do seu pensamento.
Ainda é quando a vontade está no meio do caminho.
Cismar é quando o desejo quer aquilo apesar de tudo.
Apesar é uma dificuldade que não é grande o suficiente.
Dificuldade é a parte que vem antes do sucesso.
Sucesso é quando você faz o que sabe fazer só que todo mundo percebe.
Indecisão é quando você sabe muito bem o que quer, mas acha que devia querer outra coisa.
Certeza é quando a idéia cansa de procurar e para.
Intuição é quando o seu coração dá um pulinho no futuro e volta rápido.
Pressentimento é quando passa em você o trailer de um filme que pode ser que nem exista.
Vaidade é um espelho em todos os lugares ao mesmo tempo.
Vergonha é um pano preto que você quer pra se cobrir naquela hora.
Indiferença é quando os minutos não se interessam por nada especialmente.
Interesse é um ponto de exclamação ou de interrogação no final do sentimento.
Sentimento é a língua que o coração usa quando precisa mandar algum recado.
Raiva é quando o cachorro que mora em você mostra os dentes.
Tristeza é uma mão gigante que aperta o seu coração.
Alegria é um bloco de carnaval que não liga se não é fevereiro.
Felicidade é um agora que não tem pressa nenhuma.
Decepção é quando você risca em algo ou em alguém um xis preto ou vermelho.
Desilusão é quando anoitece em você contra a vontade do dia.
Culpa é quando você cisma que podia ter feito diferente, mas geralmente não podia.
Perdão é quando o Natal acontece em maio, por exemplo.
Exemplo é quando a explicação não vai direto ao assunto.
Desculpa é uma frase que pretende ser um beijo.
Beijo é um carimbo que serve pra mostrar que a gente gosta daquilo.
Amor é um gostar que não diminui de um aniversário pro outro.
Não. Amor é um exagero...
Também não. É um desadoro...
Um batelada? Um enxame, um dilúvio, um mundaréu, uma insanidade, um destempero, um despropósito, um descontrole, uma necessidade, um desapego?
Talvez porque não tivesse sentindo, talvez porque não houve explicação, esse negócio de amor ela não sabia explicar, a menina.